sábado, 19 de agosto de 2006

Roatán, o império dos mosquitos

18/08 a 27/08

Se um daqueles filmes B que reprisavam no SBT após o almoço tivesse explorado um universo dominado por mosquitos, Roatán seria seu cenário.

Roatán é uma grande ilha, com 60km de extensão e 10km de largura. Poucas praias divdem o litoral com piers, resorts e pedras. O clima tropical faz o mergulho não precisar de roupa especial alguma, luxo de poucos lugares no mundo. A ilha é envolta pela segunda maior formação de corais do mundo, que se extende a partir de Belizei. Com o coral, muita vida marinha! Paraíso para mergulhadores, que vêm de toda parte do globo. De toda parte do globo para o prato dos mosquitos.

Após uma minunciosa análise (afinal, somos consultores), conseguimos desvendar a perversa mecânica desta ilha: Roatán é um paraíso de mergulho artificialmente criado pelos mosquitos pra atrair uma grande diversidade sanguínea para seu banquete. Com ajuda de alguns humanos traidores, claro. Estes são facilmente identificáveis pela omissão de qualquer cicatriz referente à drenagem de sangue. São poucos, mas bastante coordenados.

Amanhã tentaremos escapar do domínio dos insetos. Caso a fuga, via aérea, falhe, vamos nadar até Miami.

Além das fotos, levaremos cicatrizes. Tatuagens da incessante guerra contra os vorazes pernilongos e temíveis sandflies.

Aqui os pernilongos atingiram um novo grau de desenvolvimento. São mais ágeis e fortes, capazes de perfurar calças e camisetas em busca de sangue. Sua notória fraqueza, o zumbido característico do bater de suas asas, aqui não existe mais. São como os ninjas da "sessäo da tarde", silenciosos e mortais. Drenam o equivalente a duas colheres de sopa em segundos. Estamos recebendo transfusões diariamente para sobreviver.

Mas os mais sórdidos dos insetos são os sandflies. Minúsculos, passam desapercebidos pelos olhos inatentos. Andam em nuvens e colam na pele nua num piscar de olhos, deixando largas marcas vermelhas. Imperam em um raio de 50 metros de qualquer grão de areia. Hoje já parece que temos sarampo, depois do último ataque.

Para consciência de todos, vale narrar nossos primeiros instantes aqui.

Furiosos, descemos do ferry com nossas mochila-mundo e atacamos West-bay, o lado mochileiro da ilha. As telas anti-mosquito nas janelas, fechaduras e canos de nosso quarto já nos sinalizavam problemas, mas achamos que tudo era um erro de uma decoradora hondurenha. Quem sabe pra dar um ar "campo de concentração" pro ambiente.

Rumamos pra praia. Malandros, na ginga nativa, sem camiseta, só dourando os músculos. Estranho estarem todos outros vestidos. Tem maluco até de calça e manga longa. Ahhh, deve ser um destes americanos que detesta países tropicais, praias azuis e água translúcida. Esse pensamento foi cortado por um súbito ataque de coceira nas costas, braços, pernas e alma. Seria intoxicação alimentar? Filtro solar vencido? Macumba?

Não... Eram eles...

Fugir pra água foi inútil. Sandflies dominam o ar. Este é o motivo do aluguel do snorkel ser tão abusivo - é o único esconderijo do humanos é sob a água.

Repelente, veneno em espiral, baby-oil, soda cáustica e ácido sufúlrico. Tentamos de tudo e só conseguimos cheirar mau. O que parece não afungentar nossos captores.

Tirando essa contínua tortura, mergulhamos. E muito. A impressionante barreira de coral atinge desde o raso até a profundeza do oceano. É repleta de peixes, raias, tartarugas, polvos, lulas, enguias e esponjas. Impressionante, mesmo pra quem já esteve em Noronha. Sair de um mergulho só dá vontade de mergulhar de novo. E foi isso o que fizemos, dia após dia. Mergulho de manhä, pausa pra relaxar, mergulho à tarde, mais pausa pra relaxar. No meio tempo, uma ligeira descansadinha sob o ventilador, afinal ninguém é de ferro...

Excelente fim pro mochilão. Agora é só enfrentar São Paulo, PCC e motoboys insanos! Mochilão guardado... mas espero que por pouco tempo!

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