domingo, 6 de agosto de 2006

Presos no Panamá

Ontem, quando resolvemos o problema do cartão de credito, perdemos nossas reservas de vôo, ficando em Stand-By para o trecho Panama City - Tegucigalpa. O glamour foi que o Stand-By durou um dia inteiro!


Agasalhando ficar no Panama, descobrimos que o aeroporto fica bastante longe da cidade. No mesmo instante, fomos atacados por uma horda de taxistas leiloeiros. Como num autêntico leilão, parecia que competiam para dar os maiores preços. E tudo em dólares! (a moeda local, o Balboa, possui equivalência cambial com o dólar americano, e ambas coexistem no cotidiano panamenho)
Cansados do assédio e das tentativas de operação pelos malfeitores, decidimos partir em uma aventura por coletivos.


E que aventura... No Panamá, os motoristas possuem os próprios ônibus, e os personalizam de acordo com seu gosto individual. E alguns têm gostos um tanto particulares, podemos dizer... Os ônibus parecem saídos de uma parada circense, com cores berrantes e direito a néons. Encontramos grafites do He-Man, Hulk, caveiras, dragões e toda a sorte de motivos religiosos.



Na primeira tentativa de embarque, acabamos salvos por um velho panamenho, que, aos berros, indicou-nos estarmos indo no sentido errado. Logo em seguida, identificamos o ponto correto e embarcamos em um espalhafatoso veiculo multicor. 15 minutos dentro do ônibus, e já bendizemos a sorte de não termos alugado um carro (como chegamos a cogitar). O transito é caótico!!! Regras básicas, tais como aguardar antes de cruzar uma auto-estrada, não são respeitadas. E foi justamente. Isto que causou nosso primeiro acidente rodoviário em terras centro-americanas. Seguindo a leva de panamenhos que se apertavam conosco nos velhos bancos de couro, saímos do ônibus sem pagar e reclamando da má-sorte. Nosso próximo transporte, conduzido por um mais habilidoso motorista nos levou para nosso destino intermediário: Plaza 5 de Mayo.


Não comíamos decentemente desde o jantar do vôo e nossos estômagos nos lembraram disso. Tivemos então nossa primeira refeição local: um hot-dog do Pio-Pio, praticamente o McDonalds panamenho. Satisfeitos, seguimos de táxi para o notório canal do Panamá, em Miraflores Locks. Nosso simpático taxista deu-nos uma amostra do anti-amor nacional aos gringos, durante um rápido tour pelas antigas instalações militares americanas, hoje convertidas em faculdades. Uma curiosidade é que o próprio termo "gringo" foi cunhado como forma de protesto. Uma corruptela da expressáo "Go green go", cantada em coro pela população e que se referia à cor verde dos uniformes americanos, pedindo sua saída do país.O canal é adorado pelos Panamenhos (motivo de orgulho nacional e responsável por 10% da economia do país), e adornado por museus, cafés e restaurantes. Interessantes, de alto padrão e lotados de turistas. Presenciamos a operação do mesmo, com uma eclusa descendo um colossal navio chinês por 36 pés e manobrando-o em direção ao oceano. Foi interessante, mas tudo parece grandioso demais, inflado por certo orgulho patriótico e um sentimento revanchista contra os gringos.


Voltamos do canal de ônibus (já estávamos ficando craques em conhecer as linhas locais) e iniciamos nossa busca por um hotel seguindo o guia, que indicava a existência de opções baratas. Andamos. E andamos. E andamos. Erramos o caminho, indo parar em uma zona semelhante à 25 de Março de SP. Tudo muito barato. Produtos estilo feirinha do Paraguai. Andamos de novo, desta vez na direção certa. Chegamos finalmente à zona indicada pelo guia, com opções baratas e seguras (uma de nossas maiores preocupações depois de ver a miséria do povo - 37% vivem abaixo da linha de pobreza).


A recepcionista da pousada nos atendeu dentro de uma jaula (zoológico humano?). Pegamos um quarto muito barato (US$10/noite) já que os com ar-condicionado estavam todos ocupados. Quarto simples e pequeno que tivemos que dividir com um panamenho. Logo entramos em atrito com nosso companheiro, culminando em um golpe seco que matou a barata invasora.Durante a noite, acabamos por rebatizar Panamá para País-Sauna. O calor e a umidade eram insuportáveis. O monótono girar do ventilador não ajudava muito, pois trazia somente o vento quente. Acabei (Gus) por capitular e dormir no chão (que pelo menos era mais frio), ao lado da barata moribunda.


Fim do segundo dia de viagem.

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